A vida não permite ensaios. Todas as nossas atitudes acontecem ao vivo, em tempo real, e as consequências são fruto dessas escolhas.
Imersos nas interferências do nosso cotidiano, a importância de uma decisão e seus reflexos passam muitas vezes despercebidas aos olhos. Porém, quando um esporte chamado futebol surge, suscitando paixões mundo afora, nenhuma decisão – seja ela certa ou errada – passa incólume.
Neste mês junho, em especial, as atenções estão voltadas para o debate sobre o poder de decisão da arbitragem durante a Copa do Mundo. Se antes o juiz e seus assistentes de campo tinham total poder de confiar naquilo que estavam vendo, hoje o veredito de um lance polêmico conta com um forte aliado: a tecnologia.
A estreia do árbitro assistente de vídeo (VAR, do inglês video assistant referee) escalado pela FIFA para a Copa na Rússia tem como objetivo analisar as decisões tomadas pelo juiz principal. Com 33 câmeras acompanhando cada partida, além de duas direcionadas para situações de impedimento, a ideia é fazer com que erros de interpretação sejam reduzidos e não interfiram no resultado dos jogos.
Agora essa é a teoria. Na prática, já vimos que a polêmica sobre a arbitragem persiste.
Um exemplo claro foi constatado na primeira partida do Brasil na competição. Jogando, aqui entre nós de maneira bem razoável, a seleção canarinho teria sido prejudicada em dois lances: no empurrão sofrido pelo zagueiro Miranda, que resultou no gol da Suíça, e na não marcação de pênalti sobre Gabriel Jesus, agarrado dentro da grande área do adversário.
Deixando de fora a paixão, vejo com bons olhos a decisão do árbitro César Ramos em seguir sua percepção e dar sequência de jogo, sem abrir precedentes à pressão feita pelos jogadores brasileiros em campo. De fato, a possibilidade de consultar o VAR é, sem dúvida, um avanço. Mas até que ponto esse apoio tecnológico não exime o juiz daquilo que é o seu principal papel dentro das quatro linhas?
Fica cada vez mais provado que por mais que se tenham subsídios, a decisão sempre será passível de questionamentos.
Porque mesmo após a análise das jogadas pelas câmeras, não chegou-se a um consenso sobre as supostas irregularidades nos lances. As dúvidas ainda persistem.
Analisando friamente, o fato é que se o juiz tivesse interrompido a partida para consultar os apoiadores da sala de monitoramento, o debate poderia ter se prolongado por muitos minutos, resultando na perda do controle da partida – tanto por parte da arbitragem quanto pelas duas equipes.
A postura do árbitro, a meu ver,com clara isenção, deixando qualquer emoção de lado e diante da certeza da decisão que havia tomado in loco, é um exemplo de que um bom líder, mesmo que se prove posteriormente errado, consegue a partir de suas convicções manter o equilíbrio e fazer com que todos a sua volta o respeitem e confiem em seus direcionamentos.
Os lances foram, sem dúvida, extremamente polêmicos com ou sem o VAR, porém, esta ferramenta tem se mostrado bastante eficaz quando uma decisão possa ter sido tomada evidentemente errada. Ou seja, ela veio para deixar tudo mais transparente e, entendo ser isso muito bom para o esporte.
Como resultado de toda essa polêmica, a FIFA declarou estar satisfeita com a participação do árbitro no jogo.
*Uranio Bonoldi é consultor, palestrante e oferece coaching personalizado. É especialista em Tomada de Decisão.