UM CONTRATEMPO: O DILEMA DAS ESCOLHAS RUINS E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Quem me conhece sabe que por ser escritor tenho muitas, mas muitas, ressalvas a spoiler. Quando alguém vem me indicar um livro, por exemplo, e já começa a dar detalhes demais sobre a história peço, respeitosamente, que não avance nas minúcias. Não é por mal. Faço isso unicamente porque não quero influenciar minha percepção sobre a obra com base na opinião de outras pessoas. 

Mas hoje vou fazer exatamente o contrário. Quero dar um spoiler daqueles. Portanto, se você é como eu e não gosta de ter a história revelada antes de conhecê-la, não precisa continuar a ler esse texto. Mas, se fizer isso você pode se arrepender! Brincadeiras à parte, meu artigo de hoje fala sobre o filme Um Contratempo, disponível no catálogo da Netflix.

Com essa confusão que virou 2020, tenho aproveitado o tempo livre para ler bastante e assistir filmes preferencialmente fora do mainstream. Sem muito pesquisar, cheguei ao filme de Oriol Paulo, diretor espanhol conhecido por suas obras de suspense. E, como eu adoro esse gênero, fui nele. Duas horas depois me vi paralisado em frente a televisão. E já digo o porquê.

Antes, como prometido, preciso dar o spoiler. O filme começa com um homem, Adrian Doria, que acorda ao lado da namorada, Laura Vidal, em um quarto de hotel. Até aí nenhum problema. Não fosse o fato de ela estar morta e, do lado de fora, haver muitos policiais em vias de invadir o local. A princípio não se sabe como ela foi morta e quem a matou. E é essa a trama.

Porém, a história faz um flashback e mostra os dois saindo de um hotel no interior em direção à Barcelona. Detalhe: eles são amantes. Ambos são casados, sendo que ele tem filhos e ocupa uma posição executiva de destaque no cenário nacional. Quando estão na estrada, um cervo cruza a pista e faz com que o carro perca a direção, colidindo com um outro veículo que vinha na direção oposta. 

Passado o susto inicial, o casal percebe que nada lhe aconteceu e desce do veículo para saber se o outro condutor também está bem. Mas, quando chegam próximo ao carro, percebem que o motorista, um jovem, está morto. Um acidente em que ninguém teve culpa, mas que resultou, infelizmente, em uma fatalidade. O normal nesse caso seria avisar as autoridades e seguir os trâmites burocráticos, prestando depoimentos como testemunhas a fim de contar o que de fato ocorreu.

Mas você já deve ter sacado que não foi isso que aconteceu. Como estavam em meio a uma situação, digamos, não muito confortável no papel de amantes e ele, sendo um homem público, com o risco de ter os negócios e sua vida pessoal abalados por conta de um escândalo, ambos tomam uma decisão: a de esconder o carro, tirando-o da estrada.

Meu spoiler só vai até aqui, o que por sinal corresponde aos primeiros 10 minutos do filme. Confesso que vi na obra uma semelhança muito grande com a essência do meu livro A Contrapartida, em que reforço a tese de que escolhas erradas, por indiferentes  que possam parecer, podem causar um efeito devastador no destino das pessoas.

No livro, conto a história do personagem Tavinho (link para o booktrailer), um jovem adolescente que, para se tornar mais astuto, com raciocínio mais ágil e inteligência acima da média, toma uma decisão, a princípio inofensiva, que resulta em sérias consequências que colocam em xeque o futuro do personagem e de todos à sua volta. 

Como podemos ver, Adrian e Tavinho, separados por uma enorme diferença de enredos, têm em comum o impacto de escolhas que recaem sobre suas vidas. Isso pode parecer óbvio, mas não é. Reforçar a tese de que decisões corta-caminho apresentam consequências no futuro é fundamental para o desenvolvimento de crianças, jovens e adultos. E é muito bom saber que a literatura e o cinema estão transmitindo essa mensagem.

Se você ficou curioso em saber como essa história termina, vai lá na Netflix. Porque hoje eu não dou mais nenhum spoiler!

Booktrailer: “A Contrapartida”

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