Inovar sempre? Quando é hora de parar de reinventar a roda nos negócios

Ainda que esteja em alta no mercado atual, a pauta da inovação pode saturar se não estiver balizada na busca por melhorias funcionais em produtos e serviços

Impulsionados pelos avanços da tecnologia, líderes têm buscado diferentes caminhos para inovar e se tornar protagonistas das transformações no mercado. Porém, se não for promovida de forma correta, a inovação pode se tornar um discurso inócuo, com empresas tentando reinventar a roda sem de fato trazer nada de novo. É o que aponta o escritor Uranio Bonoldi, especialista em tomada de decisão, negócios e carreira. Para ele, é importante avaliar se as ideias que prometem inovação de fato trarão uma forma disruptiva de se apresentar um produto ou serviço cujo impacto seja positivo, caso contrário, o mais inovador muitas vezes será manter a tradição.

“Muitas vezes, grandes ideias nascem primeiro de uma necessidade – ou seja, são apresentadas pelo mercado como uma solução para um problema que já existe. Apesar de haver, no mundo do marketing, casos em que se cria nos consumidores uma necessidade, e aí se vende um produto ou serviço em cima disso, é muito mais seguro que o caminho seja primeiro de observar o mercado e encontrar o que clientes e parceiros estão precisando,” diz o autor de “Decisões de alto impacto: como decidir com mais consciência e segurança na carreira e nos negócios”.

O discurso da inovação, se não for bem compreendido, pode fazer com que líderes invistam em ideias que não trarão qualquer retorno, porque não estão em consonância com as verdadeiras necessidades do mercado.“Todo empresário sonha em ter uma grande ideia que vai mudar o mundo, e obviamente não há nada de errado em sonhar alto, mas essa é uma expectativa que precisa ser manejada. Nem sempre conseguimos ter ideias para grandes inovações – e digo mais, nem sempre as inovações estrondosas são necessárias. Às vezes o que o mercado precisa é de mudanças pontuais que ajudem a melhorar aquilo que oferecemos para clientes e parceiros”, afirma.

Bonoldi lembra que em todos os setores da economia se vê exemplos negativos de grandes ideias que não deram certo. “Desde um produto que acabou não sendo comprado porque suas funcionalidades não eram de fato úteis para o usuário, ou a implementação de um sistema de computadores que prometia ser mais avançado mas era complexo demais para que os colaboradores utilizassem, até a adoção de um modelo de negócios que no fim se mostrou insustentável. Os prejuízos podem ser enormes, gerando inclusive falências”.

O caminho para evitar transtornos, portanto, é uma boa pesquisa, com análise aprofundada de todos os possíveis riscos, reconhecendo quais são as necessidades daqueles que irão lidar diretamente ou indiretamente com o produto ou serviço em questão. “Se a mudança, por exemplo, será no uso de uma matéria-prima, como isso vai impactar a relação com os fornecedores? Os colaboradores conseguirão trabalhar tão bem quanto com a matéria-prima anterior? Os consumidores irão aprovar a mudança? Há razões consistentes para o uso de novo material ou é apenas jogo de mercado? Essas perguntas – e muitas outras – precisam ser respondidas, pois a proposta de valor tem que ser clara para o cliente”, aponta.

Se por acaso não houver rotas possíveis para inovação, não há nada de errado em manter as coisas como estão. “Claro, sempre é possível melhorar algum produto ou serviço – trazer mais eficiência, agilidade, transparência, reduzir riscos, baratear, aprimorar, etc. Mas se todas essas possibilidades estiverem esgotadas, por que não deixar que a inovação fique para outro momento? Quando mantemos certas tradições, mostramos solidez nos negócios, e certas práticas no mercado, produtos ou serviços podem ter um bom grau de atemporalidade – sempre foram feitas do mesmo jeito porque dão os resultados esperados. A inovação, nesse contexto, está em reconhecer que nem sempre a inovação é necessária”, finaliza.

Sobre o autor:

Uranio Bonoldi é palestrante e especialista em negócios e tomada de decisão. Atuou em grandes empresas como diretor e CEO. É autor dos thrillers da saga “A Contrapartida” e de “Decisões de alto impacto: como decidir com mais consciência e segurança na carreira e nos negócios”. Educado pelo método Waldorf, sua graduação e em seguida a pós-graduação em administração de empresas foi feita na FGV-SP.

Fonte: Gazeta da Semana

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