A Copa do Mundo da Rússia caminha para sua fase final.
Sem dúvida, esta é uma das edições mais disputadas e emocionantes da história da competição, repleta de resultados inusitados e de polêmicas novidades. De tudo que vi até agora, dois assuntos me chamaram a atenção e é sobre eles que falo neste novo artigo.
Começo por um dos assuntos mais recentes da crônica esportiva: Neymar. Cai-cai, fingidor, mau-caráter foram inúmeros os adjetivos que a imprensa estrangeira e alguns torcedores escolheram para classificar o jogador brasileiro. Historicamente caçado em campo, desde a época do Santos, o atleta é conhecido por exagerar nas quedas provocadas pela falta dos adversários.
Logo após a vitória contra o México, o técnico da equipe Juan Carlos Osorio usou a coletiva de imprensa para despejar toda frustração da eliminação em cima de quem?
Claro, de Neymar. As acusações do treinador foram levadas, no mesmo dia, ao conhecimento do jogador brasileiro. Na entrevista da seleção, um repórter reproduziu a crítica e perguntou ao atacante qual seria sua resposta.
Nesse momento, assistia de casa a coletiva e confesso que fiquei impressionado com a postura do treinador do Brasil. Tite, que estava ao lado de Neymar, pegou o microfone e falou ao repórter: “Treinador responde para treinador. Jogador responde para jogador. Hierarquia ainda existe no futebol”.
Essa atitude de Tite, além de não alimentar a polêmica, foi um claro sinal de liderança. Ao ver que um de seus comandados estava em situação de fragilidade, aos olhos da imprensa mundial, o treinador chamou a responsabilidade para si, evitando assim a exposição de um importante integrante de sua equipe. Certamente, esse exemplo deveria ser seguido por muitos executivos no mercado de trabalho.
Outro exemplo que muito me impressionou foi o resultado da partida entre Japão e Bélgica. Antes do apito inicial, já se sabia que a equipe japonesa sairia derrotada, pelo menos era o que os comentaristas mundo afora falavam. Vimos, no entanto, que a história não foi bem essa.
Os orientais surpreenderam e, até os 27 minutos do segundo tempo, eram os classificados para as quartas de final da competição com um placar de 2X0 frente a seleção que ocupa a terceira posição do Ranking da Fifa. Ninguém acreditava. Mas aí o emocional falou mais alto. Faltando pouco mais de 15 minutos para o fim da partida, a equipe belga empatou.
A igualdade no placar desnorteou os jogadores japoneses.
A equipe se perdeu em campo e, no último minuto, levou o terceiro gol, eliminando-a da Copa. Naquele momento ficou evidente que a seleção do Japão perdeu para ela mesma. A falta de controle emocional foi decisiva para o resultado.
Dois exemplos:
O primeiro: demonstração do uso da razão, em detrimento da emoção. Levando o treinador a tomar a atitude de retirar seu coordenado imediatamente de uma possível situação carregada de emoções.
O segundo: demonstração em que a emoção prevaleceu sobre a razão ao time do Japão, por não avaliar, de forma realista, as competências de seu oponente, agindo de forma quase infantil (emocional), continuando num desenfreado ataque, deixando sua defesa aberta, quando, na realidade, deveria apenas ter se resguardado ao máximo diante dos claros pontos fortes da seleção da Bélgica. Tão fortes que esta seleção eliminou o Brasil da competição na última sexta-feira, um dos possíveis candidatos ao título desta Copa do Mundo.
Por mais difícil que pareça, nesses momentos é preciso que haja pelo menos um integrante do time que consiga passar tranquilidade aos demais. A razão deve falar mais alto. Da mesma forma, temos de encarar os revezes na nossa vida. Em uma situação de dificuldade, é fundamental respirar, refletir e isolar o concreto do emocional. Assim nossa atitude será muito mais assertiva e consciente.
Com Croácia, Bélgica, França e Inglaterra na disputa pelo título da Copa do Mundo de 2018, o torcedor conhecerá o campeão neste domingo (15). Mas, independente do resultado em campo, a competição já nos trouxe grandes exemplos de como lidar melhor com os desafios do dia a dia.