Carreira em Y: por que profissionais dispensam cargos de liderança?

É possível planejar o futuro profissional sem almejar postos de gestão de equipes, onde frequentemente há muita pressão

Na série irlandesa “Vikings”, chama atenção a dinâmica entre o rei Ragnar e o construtor de barcos Floki. O primeiro é o líder do povo, encabeçando as principais decisões e conquistas; o segundo, mantém-se como conselheiro, cujas habilidades e inteligência são imprescindíveis para a execução dos planos do rei. Embora hierarquicamente Ragnar esteja em um nível superior, seu êxito depende da engenhosidade de Floki. De que formas essa dinâmica também ocorre nas relações profissionais contemporâneas? Será que todos os profissionais almejam ser como Ragnar, ou há quem prefira ser Floki?

“O senso comum tende a colocar a posição de líder, gerenciando pessoas em uma hierarquia superior, como algo que todo profissional deveria buscar. Entretanto, há aqueles que dispensam cargos assim, preferindo contribuir com sua expertise”, diz Uranio Bonoldi, especialista em carreira e negócios. “Em vez de crescerem profissionalmente assumindo a liderança nas empresas, eles se especializam em determinadas áreas, executando com maestria aquilo que são designados, tornando-se indispensáveis para o sucesso corporativo”, afirma. A esse tipo de desenvolvimento profissional se dá o nome de Carreira em Y, no qual a pessoa pode escolher qual caminho prefere seguir.

Os motivos que levam uma pessoa a abrir mão de altas hierarquias em cargos de liderança podem variar. “Além das responsabilidades e a pressão serem elevadas, há ainda a demanda por uma habilidade de gestão que nem todas as pessoas têm. Saber mediar conflitos e planejar ações que deem resultados a curto, médio e longo prazo é desafiador, e os riscos de um plano ser mal sucedido podem afastar as pessoas dessas funções”, aponta Bonoldi, autor de “Decisões de alto impacto: como decidir com mais consciência e segurança na carreira e nos negócios”. Assim, os profissionais muitas vezes optam por evoluir pela via da especialização, mas sem almejar cargos de liderança.

Para Bonoldi, o grande benefício da Carreira em Y é expandir as oportunidades de desenvolvimento profissional para que as pessoas possam escolher aquilo com que mais se identificam. “Não é necessário estratificar os planos de carreira, como se só fosse possível crescer nas empresas alcançando postos de liderança. Também é plausível que um profissional evolua tornando-se expert na execução de determinadas tarefas. Afinal, como no caso de Ragnar e Floki, muitas vezes há uma importante relação de interdependência entre o gestor e o especialista, sem a qual as organizações jamais se desenvolveriam ou se tornariam únicas em fazer o que fazem”, opina.

As pessoas, afinal, têm diferentes habilidades, personalidades, gostos e preferências. “Quanto mais autoconhecimento elas têm, mais aptas estão para reconhecer quais caminhos são mais apropriados para o seu crescimento e a realização de seu propósito.  Vejam que o importante é que esses profissionais possam fazer escolhas  conscientes e seguras, para que se tornem profissionais realizados, independente do posto de trabalho que ocupem”, pontua.

Sobre o autor:

Uranio Bonoldi é palestrante e especialista em negócios e tomada de decisão, é professor do Executive MBA da Fundação Dom Cabral, onde leciona sobre “Poder e Tomada de Decisão”. Educado pelo método Waldorf, sua graduação e em seguida a pós-graduação em administração de empresas foi feita na FGV-SP. Atuou em grandes empresas como diretor e CEO.

Fonte: Estadão

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