Autor lança terceiro livro da saga A Contrapartida. A sequência já atingiu o topo do ranking dos mais vendidos do gênero thriller na Amazon e já tem continuação planejada.
Em várias produções artísticas, como cinema, TV ou plataformas de streaming há um forte aumento da presença de obras que abordam casos de crimes, sejam eles reais ou ficcionais. Podcasts que investigam ocorrências do passado, por exemplo, têm tido uma grande popularidade, assim como séries que exploram o desejo de vingança e o uso da violência.
Na literatura temos muitos nomes clássicos como Edgar Alan Poe, Agatha Christie ou Stephen King. Todos gênios do suspense e do horror. E por que será que o ser humano sempre buscou contato com esse tipo de conteúdo? Para Uranio Bonoldi escritor da série de thriller A Contrapartida, o segredo está na dualidade do ser humano que o faz esconder o seu lado mais obscuro e, ao mesmo tempo, buscá-lo em produções culturais.
O escritor acredita que, ao assistir uma série sobre crimes bárbaros ou ler um livro sobre assassinatos em série, o público sana a curiosidade pelo comportamento instintivo.
Os livros da saga A Contrapartida exploram a complexidade do comportamento humano, revelando como é possível se aproximar ou se afastar da nossa racionalidade por meio de nossas escolhas. Apresentam também ambientações tipicamente brasileiras, com conflitos que vão desde a violência de São Paulo ao garimpo ilegal na Amazônia.
Recentemente, Bonoldi lançou A Contrapartida III – A Contra-história, revisitando livros anteriores para mostrar o que aconteceria com o protagonista se ele tivesse feito uma escolha diferente na história original.
O autor conversou com o e-Urbanidade:
#1 – e-Urbanidade: Recentemente houve o lançamento de A Contrapartida III – A Contra-história. Como você escreve? Você tem algum método para escrever, ou algum horário em que a escrita flua mais. Além disso, quanto tempo levou para escrever esse último volume?
Uranio Bonoldi: “Sim, tenho um método que acredito me ajuda muito. Assim que tenho a ideia eu crio o que chamamos de arco da história. Isso ajuda a eu ter o começo, meio e fim do que pretendo escrever e transmitir ao público. Por exemplo, o arco da história do Livro 5, que deve ser lançado em 2025, elaborei há mais de um ano quando tive vários insights.
Uma vez o arco da história bem claro, revisado e mostrando absoluto sentido, eu entro na fase de elaborar um mini resumo do que será tratado em cada capítulo para a história ter uma sequência lógica, trazer a evolução dos personagens e ganchos entre os capítulos, de forma a prender o leitor ao máximo possível na leitura. Minha busca sempre é tentar fazer o leitor se perguntar: ‘caramba, o que virá a seguir? Preciso ler mais!’.
Outro ponto que elaborei, em particular para essa saga, é toda sua cronologia em uma planilha de Excel. Nela tenho todos os personagens listados, sejam principais ou secundários, de forma a saber em cada acontecimento (marco), qual a idade de cada personagem e o respectivo ano do acontecimento.
A saga trata de eventos a partir da década de 1980 indo até meados de 2020. São mais de 40 anos em que os personagens se interrelacionam em inúmeros acontecimentos. Como é um thriller que começa pelo seu fim e avança e retrocede na forma como é contado ao leitor, essa ordem cronológica tem que guardar verdadeira perfeição.”
#2. Qual é o tipo de literatura ou de autores que você tem preferência e qual foi a influência deles em sua carreira?
U.B – “O meu tipo de literatura recreativa sempre foi policial e thrillers. Acredito que podemos separar duas fases na minha vida para minha preferência de autores.
Quando era adolescente lia muito Agatha Christie. Sua influência na minha forma de escrever foi a habilidade de buscar sempre um fim surpreendente, inesperado. Pessoas próximas ao lerem meu primeiro livro, disseram ter vontade de me matar quando se depararam com o final (risos).
O Livro 2 e 3 também têm finais surpreendentes, mas o impacto se dá, principalmente, se o leitor ler o Livro 1 e o Livro 2. Já quando me tornei jovem adulto, minha inspiração veio mais de Stephen King. Este grande autor me trouxe a forte influência em escrever thrillers que o leitor, em muitas situações, se pergunta: ‘isso pode ser real, ou seria sobrenatural?’ Essa linha tênue entre o fantástico e o real, considero King um mestre. E busquei isso nesta saga quando apresento os rituais indígenas, seus chás e elixires.”
#3. Suas ambientações são tipicamente brasileiras, com conflitos que vão desde a violência de São Paulo ao garimpo ilegal na Amazônia. Pensando sobre a violência desses dois lugares: o que mais chama a atenção sobre a violência numa megalópole como São Paulo? E o que é mais marcante sobre a violência que vem ocorrendo nos últimos anos na região Amazônica?
U.B – “Abordo esses temas no livro mostrando a dualidade existente nas ambientações. Por um lado, a Amazônia é uma região que abriga um bioma altamente diversificado, onde tudo é superlativo, fantástico, potente e deslumbrante. De outro lado, apresenta a violência, representada pelo garimpo e exploração da madeira de forma ilegal, subjugo das populações indígenas e tantos outros estragos feitos pelo homem. Situação esta que há anos se intensifica ao invés de paulatinamente ser reduzida e estancada através da educação, respeito pelo humano e prática do ser ético.
Na grande São Paulo, não é diferente, cidade rica, pujante, diversificada em suas inúmeras facetas, – superlativa em tudo. Do outro lado apresenta a violência urbana, o descaso com o cidadão, falta do Estado onde deveria estar para atenuar as desigualdades, dar educação, saúde, saneamento básico e o máximo de bem estar possível. Enfim, busco em toda obra, apresentar essa dualidade entre a luz e sombra que é inerente ao homem.
Portanto, mostro que replicamos no meio em que vivemos a nossa dualidade luz e sombra e assim trago as reflexões: será que o homem nunca irá buscar sua consciência e irá agir sempre com forte peso na dualidade entre satisfação de seus desejos e prazeres e buscará, a qualquer custo, evitar a dor e fugir do que lhe causa medo?
A história nos leva a refletir se não devemos buscar e praticar mais nossas virtudes, valores e sabedoria que é do ser humano. Para pensar, para refletir e para buscarmos um convívio mais harmonioso entre homem, sua capacidade de realização e preservação do planeta e culturas nativas. Podemos fazer a diferença ou é tarde demais?”